segunda-feira, 23 de novembro de 2009
Comemoração do II Congresso Nacional de Anistia
Em 1979, após 15 anos de ditadura civil-militar, setores organizados da sociedade brasileira proclamavam a necessidade de uma anistia ampla, geral e irrestrita para os exilados, presos e perseguidos políticos pelo regime. Quatro anos antes deste movimento, o povo assumia, pela primeira vez, o protesto aberto contra o governo militar em face do assassinato do jornalista Vladimir Herzog nas dependências do DOI-CODI paulista, em outubro de 1975. A população de São Paulo compareceu em massa ao culto ecumênico realizado na Catedral da Sé, presidido por diversos líderes religiosos, entre os quais se destacavam o cardeal dom Paulo Evaristo Arns e o pastor presbiteriano Jaime Wright, liderança inconteste da Fundação 2 de Julho.Em 28 de agosto de 1979, o governo militar, presidido pelo general João Batista Figueiredo, fez aprovar no Congresso Nacional uma anistia parcial e discriminatória que deixava de fora presos políticos como, por exemplo, o pernambucano radicado na Bahia Theodomiro Romeiro dos Santos. Esta lei concedia, a partir de 1º de novembro do mesmo ano, a liberdade a presos políticos e o direito de regressar ao País a centenas de cidadãos banidos e exilados arbitrariamente do País. No entanto, nada esclarecia sobre as mortes e os desaparecimentos de militantes políticos.De 15 a 18 de novembro daquele, em resposta à lei limitada, o Comitê Brasileiro pela Anistia realiza, em Salvador, o II Congresso Nacional pela Anistia. No entanto, os locais procurados para sediar o evento se recusavam, apesar até mesmo da intervenção do cardeal dom Avelar Brandão Vilela, arcebispo primaz do Brasil. A Fundação 2 de Julho, que tem um compromisso permanente com os direitos humanos, e na época era presidida pelo professor Josué Mello, foi a única instituição que se dispôs a enfrentar a ditadura militar. Abriu suas portas ao Comitê e possibilitou a realização do congresso.A Fundação 2 de Julho continua na vanguarda da luta pelos Direitos Humanos no Brasil, e hoje tem a satisfação de celebrar os 30 anos deste marco histórico, o II Congresso Nacional pela Anistia, realizado em seu campus onde estão instalados o Colégio e a Faculdade 2 de Julho. Hoje, a instituição se mantém vigilante pela preservação e garantia dos direitos humanos através da Conferência Jaime Wright que instituiu, há cinco anos, o Prêmio Promotores da Paz e dos Direitos Humanos.
quinta-feira, 19 de novembro de 2009
Outubro, de Eisenstein
O Cineclube Cine em Debate exibe hoje, dia 19/nov, às 19h00, no auditório Cefas Jatobá da Faculdade 2 de Julho, o filme Outubro, sob a direção do cineasta russo Sergei Eisenstein, considerado um dos ícones do cinema mundial e Outubro um entre os seus principais filmes. A película é de 1928, com roteiro de Eisenstein e G. Aleksandrov, baseado no livro “10 dias que abalaram o Mundo”, do jornalista e escritor norte-americano, John Reed, testemunha ocular dos episódios de que trata o livro, a Revolução Bolchevique na Rússia. O filme tem o objetivo de marcar as comemorações do 10º aniversário de passagem da Revolução Socialista de outubro de 1917 que derrubou o governo provisório de Kerensky. O filme contém um farto material da história política russa, foram feitas tomadas nos próprios locais onde os fatos ocorreram, como o Palácio de Inverno, e conta com a participação de gente do povo que realmente vivenciou aqueles epísódios.
Eisenstein é um cineasta conhecido pelas suas teorizações em torno da montagem no cinema. Segundo ele, “o music-hall e o circo constituem a escola para o montador”. Em Outubro deu os passos iniciais para o que chamou de “montagem intelectual”. Para ele a preocupação não deveria estar centrada na narrativa de histórias e sim na difusão de conceitos e ensaios logicamente formulados, esta era a forma que adotava na defesa do seu “cinema-discurso”. Eisenstein apoiava-se também no princípio de Maiakosvski de que “sem forma revolucionária não há arte revolucionária”.
Nestes dias em que se registra a passagem de mais um aniversário da Revolução Bolchevique, que se aproxima do seu primeiro centenário, e do vigéssimo aniversário da derruba do Muro de Berlim, não há momento mais oportuno para se debater a importância histórica destes episódios e a herança deixada por eles para o mundo contemporâneo. Por outro lado, não há como se discutir cinema com seriedade sem levar em conta a contribuição teórica e fílmica de Sergei Eisenstein. É nesta perspectiva que o Cineclube Cine em Debate promove o debate em torno do filme Outubro, contando com a presença do professor Muniz Ferreira, do curso de História da Universidade Federal da Bahia (UFBA), da professora Verbena Córdula, do curso de Comunicação Social da Faculdade 2 de Julho (F2J), como debatedores, e do professor Augusto Sá, do curso de Com. Social da Faculdade 2 de Julho (F2J), coordenador do Cineclube Cine em Debate, como mediador.
terça-feira, 17 de novembro de 2009
Carta de Tabor
Cartas dos Direitos do Público
A Federação Internacional de Cineclubes (FICC), organização de defesa e desenvolvimento do cinema como meio cultural, presente em 75 países, é também a associação mais adequada para a organização do público receptor dos bens culturais audiovisuais.
Consciente das profundas mudanças no campo audiovisual, que geram uma desumanização total da comunicação, a Federação Internacional de Cineclubes, a partir de seu congresso realizado em Tabor (República Tcheca), aprovou por unanimidade um documento com o seguinte teor:
1. Toda pessoa tem direito a receber todas as informações e comunicações audiovisuais. Para tanto deve possuir os meios para expressar-se e tornar públicos seus próprios juízos e opiniões. Não pode haver humanização sem uma verdadeira comunicação.
2. O direito à arte, ao enriquecimento cultural e à capacidade de comunicação, fontes de toda transformação cultural e social, são direitos inalienáveis. Constituem a garantia de uma verdadeira compreensão entre os povos, a única via para evitar a guerra.
3. A formação do público é a condição fundamental, inclusive para os autores, para a criação de obras de qualidade. Só ela permite a expressão do individuo e da comunidade social.
4. Os direitos do público correspondem às aspirações e possibilidades de um desenvolvimento geral das faculdades criativas. As novas tecnologias devem ser utilizadas com este fim e não para a alienação dos espectadores.
5. Os espectadores têm o direito de organizar-se de maneira autônoma para a defesa de seus interesses, com o fim de alcançar este objetivo, e de sensibilizar o maior número de pessoas para as novas formas de expressão audiovisual, as associações de espectadores devem poder dispor de estruturas e meios postos à sua disposição pelas instituições públicas.
6. As associações de espectadores tem o direito de estar associadas à gestão e de participar na nomeação de responsáveis pelos organismos públicos de produção e distribuição de espetáculos, assim como dos meios de informação públicos.
7. Público, autores e obras não podem ser utilizados, sem seu consentimento, para fins políticos, comerciais ou outros. Em casos de instrumentalização ou abuso, as organizações de espectadores terão direito de exigir retificações públicas e indenizações.
8. O público tem direito a uma informação correta. Por isso, repele qualquer tipo de censura ou manipulação, e se organizará para fazer respeitar, em todos os meios de comunicação, a pluralidade de opiniões como expressão do respeito aos interesses do público e seu enriquecimento cultural.
9. Diante da universalização da difusão informativa e do espetáculo, as organizações do público se unirão e trabalharão conjuntamente no plano internacional.
10. As associações de espectadores reivindicam a organização de pesquisas sobre as necessidades e evolução cultural do público. No sentido contrário, opõem-se aos estudos com objetivos mercantis, tais como pesquisas de índices de audiência e aceitação.
Tabor, 18 de setembro de 1987.
segunda-feira, 28 de setembro de 2009
AKIRA KUROSAWA: Um cinema de síntese
Akira Kurosawa (1910/1998), realizador de Dersu Uzala (1975), é o cineasta japonês mais conhecido no Ocidente, cuja revelação se dá em Rashomon, quando o apresenta no Festival de Veneza de 1951, quase dez anos depois do seu primeiro filme, Sugata Sanshiro, em 1943, e de muitos títulos já registrados em sua filmografia. Nesta obra-prima, que é Rashomon, há uma atmosfera de fábula medieval, e a sua estrutura narrativa se caracteriza pela construção em flash-backs a apresentar o mesmo acontecimento de acordo com os pontos de vista subjetivos de vários narradores - o que evoca o genial dramaturgo italiano Luigi Pirandello.
Entre as características formais de Kurosawa, destaca-se um sentido rítmico muito pessoal, desligado das tradições teatrais nipônicas, mas não identificado exatamente com as ocidentais contemporâneas. Também é singular a dureza de seus enquadramentos (o que se pode verificar em Dersu Uzala), que corresponde à sua formação pictórica, o cuidado na direção dos atores e a facilidade com que incursiona, sem temor, no caminho da síntese em que o plástico, o sociológico e o psicológico chegam, sem obstáculo, a um ponto de fusão. Dotado de uma violência quase congênita e de uma técnica bem assimilada em sua fase de assistente de grandes cineastas japoneses, Kurosawa representa, para o cinema nipônico, o grande relevo da formação clássica, presidida pela figura de Kenzi Mizoguchi (Contos da lua vaga) . Universal em sua linguagem, embora sem a perda das características de sua cultura, influi poderosamente no cinema de autores dos anos 50 e 60 de seu páis, aos quais abre as portas do realismo contemporâneo.
No início de sua carreira, realiza três obras fundamentais, uma trilogia que constitui uma paradoxal elegia de uma civilização: O anjo embriagado (Yoidore Tenshi, 1948) - história das relações entre um médico e um gangster tuberculoso, e que assinala o começo de uma larga e fecunda colaboração com o ator Toshiro Mifune (com o qual faria o célebre Os 7 samurais), Cão Danado (Nora-iu, 1949) - descrição de todo um meio social através da busca de um detetive para recuperar o seu revólver roubado (e não estaria aqui a sofrer influência de Ladrões de bicicletas/Ladri di biclette, 1948, de Vittorio De Sica, obra-prima do neorrealismo italiano?), e especialmente Viver (Ikiru, 1953) - sobre os últimos dias de um velho funcionário público (que muitos historiadores consideram a sua obra mestra).
Kurosawa, através de Hakuchi, o idiota (Hakuchi, 1951), adaptação de Fiodor Dostoievsky), introduz sutilmente a cultura europeia no cinema japonês. Admirador de William Shakespeare, realiza adaptações admiráveis, entre as quais estão Trono manchado de sangue (segundo o texto shakespeariano de MacBeth), Ran (baseado em Rei Lear), entre outras. Em 1970, angustiado por não receber recursos para terminar um filme, tenta se suicidar, mas consegue sobreviver com a ajuda de produtores americanos.
Dersu Uzala é da fase em que o grande mestre se afasta do Japão, nos anos 70, à procura de uma inspiração exterior. Mas suas constantes temáticas e estilísticas estão presentes neste admirável filme sobre o homem e a natureza e o choque de culturas.
Dersu Uzala, uma obra notável
Mas, Dersu Uzala, um dos mais notáveis filmes de Kurosawa, este diretor que durante 50 anos fez o mundo refletir a partir de sua perspectiva cinematográfica, não foi filmado no Japão e nem é uma produção japonesa. Se o cinema japonês se tornou conhecido no mundo inteiro o Japão deve isto a Kurosawa, embora não o reconheça. Dersu é uma produção soviética (antiga URSS), com locações na Sibéria e em Moscou, pois o Japão não queria financiar, sob alegação de sua ocidentalização, o diretor de obras que marcam a história do cinema, tais como Os sete samurais, Sonhos, Kagemusha, Rashomon, entre outras de menor repercussão.
Dersu Uzala é um filme dirigido com extrema sensibilidade, com uma câmera sutil de quem olha com o olhar da admiração, buscando compeender o que está vendo, mas sem querer alterar o que presencia, apenas admira. Dersu é uma produção de delicadezas, uma elegia à amizade, uma declaração de respeito à diferença. Dersu Uzala é muito mais ainda, é principalmente a convicção de que o homem, ao contrário do que pensa a Academia na visão dicotômica entre sujeito e objeto, é apenas parte da natureza. Pensamos o mundo a partir da contradição cultura x natureza. Está passando da hora do homem rever o paradigma onde a sua afirmação apresenta-se não como convivência harmônica com a natureza, mas como sua capacidade de transformar esta natureza ao seu bel prazer e, normalmente, esta transformação vem mediada pelos “interesses materiais” e não exatamente pelo prazer ou pela felicidade humana.
A recepção de Dersu Uzala, exibido na quarta-feira passada, foi das melhores. O auditório estava cheio e o debate contou com a contribuição do crítico de cinema e professor André Setaro (UFBA), dos professores Ivan Gargur e Daniela Souza (mediadora), ambos da Faculdade 2 de Julho (F2J).
terça-feira, 22 de setembro de 2009
Dersu Uzala - Debate
Filme: Dersu Uzala
Diretor: Akira Kurosawa
Local: Auditório Cefas Jatobá - F2J
Dia: 23/set (4ª feira)
Hora: 19h00
Dersu Uzala, um filme de Akira Kurosawa
Dersu Uzala foi o filme escolhido e será exibido nesta semana. O filme é de 1975, baseado no romance de Vladimir Arsenyev, tendo Kurosawa na direção e no roteiro. Dersu é um camponês mongol que atua como guia de um oficial do exército russo em viagem de exploração na Sibéria. Dersu Uzala salva o militar da morte certa no frio siberiano e este, num gesto de agradecimento, o leva para a cidade. A vida de Dersu vira um transtorno, o choque cultural é imenso, ele não se adapta à vida na cidade, muito diferente do contato direto com a natureza. A luta pela sobrevivência, enfrentando um dos ambientes mais hostis do planeta, possibilita a Kurosawa dirigir algumas das cenas mais bonitas do cinema.
domingo, 20 de setembro de 2009
O Cineclube Cine em Debate participa da 36ª Jornada de Cinema da Bahia
Entre os dias 10 e 17 de setembro aconteceu em Salvador a 36ª Jornada Internacional de Cinema da Bahia, com atividades no ICBA, no Espaço de Cinema Glauber Rocha, na sala Walter da Silveira (Biblioteca Central da Bahia) e no hotel Sol Victória Marina, onde se realizaram as reuniões.
A Jornada deste ano foi dedicada ao jornalista, sociólogo, engenheiro e escritor brasileiro Euclydes Rodrigues Pimenta da Cunha (Euclydes da Cunha), autor de Os sertões, entre outras obras, quando se comemora o centenário de sua trágica morte, ocorrida numa luta com o tenente Dilermando de Assis, amante de sua esposa. O outro homenageado será o cineasta Roberto Rossellini, considerado o fundador do neo-realismo italiano, que terá suas principais obras cinematográficas exibidas na Jornada.
A programação se completou com o concurso de filmes e vídeos afro-iberoamericanos, uma programação de filmes baianos e uma mostra da produção cineclubista baiana. Os cineclubes baianos, além da mostra audiovisual, fizeram reunião nos dias 15 e 16 tendo como pontos centrais da pauta o direito do público a ver a diversidade das produções audiovisuais brasileiras, bem como a produção mundial não hegemônica, e a se ver na tela, além da organização em uma Federação que inclua os cineclubes da Bahia e de Sergipe. No dia 17 os cineclubes se reuniram com os cineastas independentes, um encontro de quem cria com o público, através dos cineclubes.
terça-feira, 18 de agosto de 2009
Amarcord
A direção de Amarcord é de Fellini, o roteiro é dele e de Tonino Guerra, e a trilha sonora é de Nino Rota. No elenco estão Pupella Maggio, Armando Brancia, Magali Noël e Bruno Zanin.
Cine em Debate - Programação
Para compor esta programação, dado o elevado número de diretores que realmente merecem ser lembrados pela sua excelente contribuição, constituímos uma lista inicial com 32 nomes, entre cineastas falecidos e vivos, em atividade ou não. Como a nossa programação não comporta exibir a todos, fomos obrigados a selecionar aqueles que comporão a programação do semestre.
O primeiro grande diretor a ser exibido será, agora em agosto, o cineasta italiano Federico Fellini.
Você também pode entrar em contato conosco através do nosso correio eletrônico: cc.cineemdebate.f2j@gmail.com . Desde já, agradecemos sua visita ao blog, bem como suas mensagens enviadas para o nosso e-mail.
Data: 21/ago 6ª feira – 19h00;
Filme: Amarcord;
Diretor: Federico Fellini;
Origem: Itália.
Cine em Debate filia-se ao Conselho Nacional de Cineclubes (CNC)
O cineclubismo está presente no Brasil desde 1928, ou seja, uma presença de 80 anos, e tem por objetivo defender o único - e o mais importante, pois para ele se destina o produto audiovisual - setor da cadeia audiovisual que até pouco tempo não tinha representação junto aos órgãos governamentais: o público.
O CNC, além de reunir e representar os cineclubes brasileiros, também intervém no debate sobre a cultura nacional como, por exemplo, dando sugestões à proposta do MinC de alteração da Lei Rouanet, bem como representando o Brasil em atividades internacionais de cineclubismo como a 1ª Conferência Mundial de Cineclubes, realizada na Cidade do México, em fevereiro.
segunda-feira, 1 de junho de 2009
Flores do amanhã, do diretor chinês Zhang Yang, com roteiro de Zhang Yang e Ca Xiang Jun é um filme de 2005. Zhang Yang é um diretor novo, seguindo a linha sucessória da quinta geração de cineastas chineses (Tian Zhuangzhuang, Chen Kaige, Zhang Yimu) e a geração underground chinesa (Zhang Yuan, Wang Xiaoshuai), a primeira a não acatar as decisões do poder - autorização para filmar, onde filmar, etc. - passando por cima da exigências das autoridades e construindo uma filmografia contra o governo estabelecido.
Zhang Yang aparece no cenário cinematográfico chinês com Banhos (1999). É considerado, juntamente com Lu Chuan, Ning Hao e Xiao Jiang, um diretor preocupado com o "grande público". Em Flores do amanhã, ele retrata os conflitos sociais e políticos dos últimos 30 anos na China (1975 - 2005), a "revolução cultural", a morte do líder da revolução chinesa (1949), Mao Tsé-tung (1976), o afastamento da chamada "gangue dos 4" do poder, a ascensão de Deng Xiaoping e todo o processo de abertura da economia chinesa e modernização do país, mas, tudo isto feito com muita sutileza.
A história se passa em uma pequena comunidade da China, em que o pai, artista plástico preso e torturado durante a "revolução cultural", retorna para casa onde seu filho já não o conhece e ele (o pai) já não pode exercer sua profissão, por perda do controle das mãos, provocado pelas tortura durante a prisão. No conflito de um pai que quer impor seu sonho ao filho, vão aparecendo, lentamente, os conflitos de uma nova China, com seus métodos, novos interesses e novas formas de convivência social.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
Produtora faz doação à F2J
II POLICOM realiza mesa-redonda: Cinema brasileiro e novos públicos
Um dos momentos importantes do encontro foi a mesa-redonda, realizada na tarde de 4ª feira, às 15h00, sobre Cinema brasileiro e novos públicos. A mesa contou com a presença da produtora baiana Solange Lima, proprietária da produtora de cinema e vídeo Araçá Azul, e do cineasta Geraldo Moraes, gaúcho radicado em São Paulo, ex-presidente do Congresso Brasileiro de Cinema (CBC), ex-professor de jornalismo e cinema da Universidade de Brasília (UnB). Geraldo foi ainda o primeiro secretário do audiovisual brasileiro, secretaria criada pelo então ministro da Cultura, Antônio Houaiss, além de coordenar a regulamentação da Lei do Audiovisual.
A discussão foi rica e elucidativa, tendo como suporte a competência e vivência dos participantes em relação ao tema, bem como a participação entusiasmada do público presente ao evento. A mesa foi coordenada pelo professor Augusto Sá.
Cine em Debate e II POLICOM homenageiam o cineasta Glauber Rocha
terça-feira, 31 de março de 2009
Gosto de cereja, de Abbas Kiarostami
Convidado: Prof. José Henrique Santos (UFBA)
Convidada: Profa. Ana Carolina Castellucio (F2J)
Mediador: Prof. Jorge Lisboa (F2J)
Filme: Gosto de cereja (Ta’m-e-Ghilass)
Direção/roteiro/edição: Abbas Kiarostami
Fotografia: Homayoun Payvar
Elenco: Homayoun Ershadi; Abdolhossein Bagheri; Afshin Bakhtiari
Produção: Abbas Kiarostami
Lançamento: Irã – 1997 – cor – 95m
Data: 02/abril
Hora: 19h
Local: auditório Cefas Jatobá / Faculdade 2 de Julho
Atividade gratuita e aberta ao público
quinta-feira, 26 de março de 2009
Crítica - Ética e revolução em Barravento.
Curiosamente, Barravento começa sob a direção de Luis Paulino dos Santos, que teria atrasado o cronograma de filmagem, enquanto Glauber fazia parte da equipe como diretor artístico. Contudo, segundo uma versão, Paulino abandona as filmagens no meio. Na versão do crítico e professor André Setaro, Glauber teria dado “um verdadeiro golpe”, destituído o “amigo” e assumido a direção, refazendo o roteiro, juntamente com José Telles de Magalhães, e dando novo destino ao filme. Mas o próprio Setaro reconhece que toda essa história ainda está “muito mal contada, precisa ser desvendada”. Já mostrei que não faltam elementos para que Barravento seja inscrito na história do cinema brasileiro como um filme importante e envolvido em polêmicas.
É de outra ordem, entretanto, a questão que quero chamar a atenção no filme Barravento. Ao personagem de Antônio Pitanga (Firmino) sempre foi atribuída a representação do revolucionário. Mas qual é a ética que Firmino representa no filme? Esta questão parece-me um problema em Barravento. Uma das frases de Firmino, dita com muita ênfase e convicção, é:
“Já larguei esse negócio de religião, Candomblé não resolve nada, nada não. Precisamos é lutar, resistir. Nossa hora está chegando irmão”.
Nestas frases há duas afirmações categóricas: a primeira, condenando peremptoriamente a religião; a segunda, conclamando a comunidade a lutar. São dois pontos de vista que se inserem dentro de uma mesma perspectiva. Há uma perfeita sintonia, há total coerência entre as duas afirmações. O fundamento da condenação está numa concepção de marxismo de manuais que aponta a religião como “o ópio do povo”, como o fator responsável pela alienação dos homens, por um lado, enquanto a luta seria o verdadeiro caminho da emancipação dos mesmos, por outro. Mas o problema começa quando Firmino resolve recorrer ao candomblé para fazer um despacho contra Aruã. Firmino vai a mãe de santo, que não o atende, em seguida a pai Tião e pede um “despacho para estragar a rede e acabar com Aruã”. Pai Tião aceita o trabalho e o despacho é feito. Na pescaria a rede se rompe, mas Aruã escapa incólume. Firmino condenava publicamente o candomblé, mas, ao recorrer ao despacho, podemos perguntar: seria ele ainda um crente? Ele alega ter sido a 1ª e última vez que se envolveu com feitiçaria e ameaça: “vou levantar um barravento a ponta de faca”. Mas não será a última vez que recorre à religião como expediente para promover sua luta. Os pescadores costuram a rede e Firmino a destrói novamente. Cota vê o fato e ele a ameaça, pois sabia que se Cota contasse à comunidade ele estaria perdido. Cota silencia, mas não concorda com ele e lhe diz: “Firmino você cortou a rede, vai ser uma desgraça!”. Ele responde: “Meu pessoal lá da cidade sabe que as coisas vão melhorar, foi por isso que eu cortei a rede, a barriga precisa doer mesmo, quando tiver uma ferida bem grande então todo mundo grita de vez”. A ação de Firmino é racional com relação aos fins: o diretor faz o protagonista agir de acordo com o espírito do seu tempo (ou com a dialética tupiniquim que vigorava na época), de que “quanto pior, melhor!”. Quanto mais fome, mais revolta dentro desta lógica. Portanto, a ética que guia Firmino encontra seu fundamento moral na revolução. Assim como para o nacionalista a nação está acima de todos os bens e direitos individuais, para o revolucionário a revolução para promover a emancipação social dos homens está acima dos males que eventualmente possa causar, mesmo que sejam àqueles a quem ela procura benecifiar, no seu processo. Para Firmino, tudo que possa contribuir com a revolução é moralmente válido, apesar de, em princípio, a comunidade não aceitar seus métodos nem entender seus objetivos e ainda que suas ações pareçam trazer mais prejuízos do que benefícios à comunidade, ao menos de imediato.
Quando nada parecia abalar as convicções religiosas daquela colônia de pescadores, Firmino recorre mais uma vez à expedientes religiosos. Não se constrange em pedir a Cota que quebre o encanto de Aruã, que faça sexo com ele, o que, na crença religiosa da comunidade, significava quebrar a proteção de Aruã. Cota alega que “mulher que encostar nele, morre!”. Firmino responde: “Morre nada, o que mata muito é fome, é bala, é chicote!”. Apela para o amor de Cota por ele, Firmino. Cota termina por atender o pedido. Novamente, Firmino parece se guiar inspirado numa ética do “tudo pela causa”, mesmo que isto possa ferir pudores pessoais ou atingir pessoas da convivência íntima, como Cota. Depois de seduzir o velho pescador Vicente, pai de Naina, a se jogar no mar durante a noite, alegando ter visto Yemanjá chamá-lo, Firmino sai pela vila de pescadores a espalhar que presenciou Aruã tendo relações sexuais com Cota, na praia, na noite anterior, a noite do barravento. Chico sai de jangada, juntamente com Aruã, em busca de Vicente. Chico volta morto, Vicente desaparece no mar, mas Aruã regressa ileso. Na sua luta para provocar a ruptura do status quo na comunidade, Firmino usa Cota, é o responsável indireto pelas mortes de Chico e Vicente, mas tudo isso são apenas ações necessárias, de curso planejado, que ele faz sem qualquer sinal de remorso, de arrependimento. Encarna os princípios de um Maquiavel dos trópicos, do Terceiro Mundo. De qualquer forma, é a Aruã que ele atribui a culpa: “O culpado foi Aruã que renegou o santo, eu vi a miséria ontem de noite, ele estava com Cota na mesma hora que barravento chegou acabando tudo. Quem devia pagar era ele para não ficar enganando os outros dizendo que é santo, quem já viu santo de carne e osso. Chico foi pro mar pensando que tava protegido e acabou morrendo. É preciso mudar a vida de Aruã, ele é homem igual aos outros, gosta de mulher e não domina o mar”. O encanto estava quebrado, no roteiro das crenças da comunidade. O caos se instala. Aruã ataca Firmino, lutam, Firmino vence a luta, poderia matá-lo, mas preserva a vida de Aruã pois este tem um papel a cumprir na estratégia política de Firmino, ele puxa Aruã pelos cabelos e grita: “É Aruã que vocês devem seguir, o Mestre não, o Mestre é um escravo!”. Aqui fica evidente que não se trata de uma luta pessoal de Firmino contra Aruã, mas uma luta do que estes representam. Aruã discute com o Mestre, rompem. Aruã vai ao encontro de Naína e lhe diz: “Vou para a cidade trabalhar para a gente ter uma rede nossa. Firmino é ruim, mas tem razão, ninguém liga para quem é preto e pobre. Nós temos que resolver a nossa vida e a de todo mundo, agora eu tenho coragem”. O Mestre parece desolado, isolado. Aruã sai por onde Firmino chegou, pelo Farol de Itapuã, Farol que, metaforicamente, ilumina os novos caminhos de Aruã como futuro líder na emancipação da comunidade de Buraquinho. O diretor nos oferece uma solução política para a exploração e a dominação a que está submetida a vila de pescadores e a esta solução subordina todo o conflito ético que é mediado pelos limites elásticos dos interesses e das estratégias políticas.
quinta-feira, 19 de março de 2009
Cine em Debate comemorou aniversário de Glauber Rocha
A atividade do Cine em Debate, pela primeira vez desenvolvida na tarde de sábado, começou às 15h00 e contou na sua abertura com uma explanação do professor Augusto Sá sobre Glauber Rocha, o contexto sócio-histórico brasileiro em que o filme foi produzido e a importância desta obra seja na chamada “nova onda” baiana, seja como uma das obras que deram origem ao Cinema Novo. Em seguida, houve a exibição do filme e, logo após, ocorreu um debate entre os presentes.
quinta-feira, 12 de março de 2009
Crítica - Dogville
Lars Von Trier é também o diretor de Dogville e assina o filme, contrariando o décimo mandamento do seu próprio manifesto. Ainda assim, o filme pode ser considerado como influenciado pelo movimento através da ausência de cenários (que são apenas imaginados pelos personagens e espectadores, a partir de linhas demarcatórias no chão), pelo uso da câmera na mão, pela ausência de trilha sonora. Poucos são os objetos e utensílios utilizados. Dogville é o primeiro de uma trilogia de filmes do diretor sobre os EUA, chamada USA: The land of opportunities. Em seguida apareceu Manderlay, uma fazenda onde impera a escravidão no sul dos Estados Unidos, e o terceiro, Wasington, ainda não foi filmado.
O filme começa com um plano plongée mostrando toda a cidade, isto é, um conjunto de linhas demarcadas no chão para delimitar casas e ruas. Esta pequena cidade no meio oeste norte-americano, durante a grande depressão de 1930, é o palco da história. A ela, chega Grace (Nicole Kidman) fugindo de gângsteres que a perseguiam. É recebida por Tom (Paul Bettany) que se dispõe a ajudá-la. Tom convence a cidade a aceitar Grace, mas, dentro de sua filosofia inspirada no quid pro quod – expressão latina que pode ser traduzida para o português como “isto por aquilo” – convence Grace a aceitar a ajuda da cidade, recompensando-a por isto, oferecendo-lhe a única coisa que possuía, a sua força de trabalho. No princípio, a cidade não queria aceitar esta ajuda, mas logo vão arranjando trabalho para ela. Á medida que esconder Grace torna-se um risco maior para aquela população, pela presença da polícia à procura da protagonista, a cidade vai lhe impondo mais trabalho e menos regalias. O quadro se agrava e, após ameaças, chantagens, estupros (Chuck, Ben) e outras violências, Grace é amarrada com uma corrente cujas extremidades estão presas em uma roda de ferro bastante pesada (que mal ela consegue puxar!) e em uma coleira de ferro no seu pescoço, com um sino preso à coleira para denunciar uma possível tentativa de fuga. Estuprar Grace virou rotina de todos os homens daquela cidade, enquanto Tom assistia a tudo impassível.
Aquilo que para o espectador é fonte de impaciência e indignação, a imperturbável resignação de Grace em aceitar sem ressentimentos tudo que lhe acontecia, o conformismo que regia o seu comportamento diante de todo aquele sofrimento, mesmo as piores barbaridades, que fazia com que a cidade, pequena e supostamente pacata, regressasse aos horrores do período da escravidão, é, no entanto, uma atitude de um estoicismo de fazer inveja a Zenão, portanto, uma ação planejada. O estoicismo que Grace ensinava às crianças, filhos de Vera, ela própria o praticava, perdoando e justificando a todos e a tudo, indiferente às desgraças pelas quais passava. Curiosamente, quando Vera (Patricia Clarkson) explicitamente invoca de Grace uma atitude estóica – assistir a quebra de todos os bonecos comprados com tanta dificuldade – ela não consegue e chora profundamente. Os bonecos são simples objetos externos, na visão estóica, mas, Grace lhes atribuía imenso significado e não resistiu à dor. Quando os gângsteres chegam à cidade, do diálogo da protagonista com o pai (James Caan), o poderoso chefão, surge uma Grace menos estóica do que era e que agora parece estar mais influenciada pela perspectiva filosófica de Tom – o quid pro quod, retribuindo, àquela pequena e amistosa cidade, do seu jeito: comanda e pratica, especialmente no caso de Tom, uma purgação final.
Nos Estados Unidos, Dogville foi visto como um filme anti-americano, mas parece ser muito mais uma alegoria da condição humana. A solução encontrada por Grace para a cidade parece ser a única alternativa encontrada pelo diretor para a humanidade.
Homenagem Especial - Aniversário de Glauber Rocha
Diretor: Glauber Rocha
Origem: Brasil
Data: 14/março (sábado)
Hora: 15h00
Local: Auditório Cefas Jatobá / Faculdade 2 de Julho
Observação: Atividade gratuita e aberta ao público.
segunda-feira, 9 de março de 2009
PROGRAMAÇÃO 2009.1
Diretor: Lars von Trier
Origem: Dinamarca (Europa)
Data: 11/mar 4ª feira