segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Dersu Uzala, uma obra notável

O crítico de cinema, mais conhecido como poeta Vinicius de Moraes, ao assistir Hiroshima, mon amour, nos seus últimos dias de dipolmata no Uruguai, servindo no consulado brasileiro em Montevidéu, classificou o filme como uma “obra-prima” e o chamou de “um maravilhoso canto à paz”. Não satisfeito, o poetinha comparou-o a três outras grandes obras-primas do cinema: Aurora, de Murnau; Cidadão Kane, de Orson Welles ( este é o próximo filme a ser exibido pelo Cineclube Cine em Debate, em outubro); e, por fim, Rashomon, de Akira Kurosawa. Vinicius não conhecia Dersu Uzala, também de Kurosawa, pelo simples fato de que o diretor ainda não o tinha filmado. Dersu é de 1975 e a crônica do poetinha de 1960, portanto, bem antes. Se o poeta tivesse visto, naquela época, Dersu Uzala, bem que poderia também ter classificado esta “obra-prima” de Akira como “um maravilhoso canto à paz”.


Mas, Dersu Uzala, um dos mais notáveis filmes de Kurosawa, este diretor que durante 50 anos fez o mundo refletir a partir de sua perspectiva cinematográfica, não foi filmado no Japão e nem é uma produção japonesa. Se o cinema japonês se tornou conhecido no mundo inteiro o Japão deve isto a Kurosawa, embora não o reconheça. Dersu é uma produção soviética (antiga URSS), com locações na Sibéria e em Moscou, pois o Japão não queria financiar, sob alegação de sua ocidentalização, o diretor de obras que marcam a história do cinema, tais como Os sete samurais, Sonhos, Kagemusha, Rashomon, entre outras de menor repercussão.


Dersu Uzala é um filme dirigido com extrema sensibilidade, com uma câmera sutil de quem olha com o olhar da admiração, buscando compeender o que está vendo, mas sem querer alterar o que presencia, apenas admira. Dersu é uma produção de delicadezas, uma elegia à amizade, uma declaração de respeito à diferença. Dersu Uzala é muito mais ainda, é principalmente a convicção de que o homem, ao contrário do que pensa a Academia na visão dicotômica entre sujeito e objeto, é apenas parte da natureza. Pensamos o mundo a partir da contradição cultura x natureza. Está passando da hora do homem rever o paradigma onde a sua afirmação apresenta-se não como convivência harmônica com a natureza, mas como sua capacidade de transformar esta natureza ao seu bel prazer e, normalmente, esta transformação vem mediada pelos “interesses materiais” e não exatamente pelo prazer ou pela felicidade humana.


A recepção de Dersu Uzala, exibido na quarta-feira passada, foi das melhores. O auditório estava cheio e o debate contou com a contribuição do crítico de cinema e professor André Setaro (UFBA), dos professores Ivan Gargur e Daniela Souza (mediadora), ambos da Faculdade 2 de Julho (F2J).

2 comentários:

Daniela Silva disse...

Parabéns a coordenação pela iniciativa de trazer para o Cine em Debate, agora Cine Clube, o professor e crítico de cinema André Setaro que possui uma vasta experiência sobre cinema. Precisamos promover mais encontros como foi esse último na exibição do filme Dersu Uzala e fomentar discussões que nós levam a refletir sobre o papel do cinema e as contribuições que podem acrescer na vida acadêmica e na vida pessoal. Mais uma vez parabéns.

Daniela Silva disse...

Estou editando um vídeo sobre o Cine em Debate, mais expecificamente sobre a última exibição. Tão logo esteja pronto diponibilizarei em meu blog (jornalismoeentretenimento.blogspot.com)para apreciação e comentários.